Sunday, December 24, 2006

O Mundo vai Mal III

Primeiro, só prometer que este é o último da saga: O mundo vai mal. As triologias tão na moda, não é verdade?

Bem, comentando o comentário do Nuno (desculpem lá a redundância), comecemos pelo fim. Dizes que cometi um “erro de indução”. Deixa-me que te diga Nuno, que a indução não é um erro por si mesma e que é, a par da dedução ou da analogia, uma forma inferência válida! Mais, não podes afirmar categoricamente que um raciocínio indutivo está certo ou errado, pois ele não é objectivo, e a sua porção subjectiva apenas permite a que o consideres um bom ou mau raciocínio de acordo com a tua opinião pessoal.

Posto isto, dizes-me que, nesse mesmo raciocínio, e tratando-se de uma indução, eu parto de aspectos unicamente político-sociais para fazer uma apreciação do Mundo no geral. Primeiro Nuno, eu não quero nem posso ter a pretensão de fazer uma apreciação completamente objectiva de tudo o que o Mundo engloba (visto que disso, não devo conhecer senão uma ínfima parte), mas não considero que isso seja impedimento para fazer um artigo de opinião geral. Como tu muito bem dizes: “A expressão Vai Mal o Mundo invoca um sentido geral do Mundo”. Mas, mesmo assim, continuo a considerar legítima a minha conclusão de que, de facto, Vai Mal o Mundo, partindo de aspectos político-sociais, mesmo que me acuses de os usar até à exaustão. Passo a explicitar o meu ponto de vista. A Política e a Sociedade condicionam o nosso mundo. A política com as suas leis e directrizes e a Sociedade com os seus comportamentos e padrões, e a interacção de ambas, limitam, transformam e regem o Mundo que conhecemos. Por isso, quando a Política é algo de decadente e a Sociedade é amoral, as teias que mantêm tudo na ordem afrouxam. Neste contexto, como pode a Economia não ser corrupta? Como pode a Educação ser adequada? Como pode a Cultura prosperar? Quando me refiro aos problemas político-sociais Nuno, refiro-me implicitamente a todas as consequências óbvias que estes têm em tudo o resto!

Dizes ainda, que nunca comparaste situações político-sociais, mas sim situações de conflito. Deixa-me que te pergunte Nuno, o que são afinal os conflitos senão situações político-sociais? Os conflitos dependem do ambiente político-social, são dois aspectos indissociáveis, por tal, quando dissertas acerca de conflitos estás implicitamente a falar da política e da sociedade onde estes ocorreram e que dos quais foram os mentores e as vítimas. É pelo menos assim que eu os entendo.

Acho que houve outro aspecto que não ficou claro. Perguntas-me se não podemos comparar a actualidade com a II Guerra Mundial para daí se extrair que hoje em dia a situação é claramente melhor. Agora sou eu que te digo que tu, Nuno, é que estás a fazer uma interpretação demasiado linear das coisas! Claro que, objectivamente, a II Guerra Mundial foi algo de abominável e que, por isso, é incomparável com a nossa quase, desse ponto de vista, “confortável” situação de hoje em dia. Quem é que discorda disso? Contudo, a nossa situação, Nuno, é muito pior se considerarmos que mesmo depois dos horrores com que o Homem foi confrontado naqueles nefandos 6 anos, o homem continua (60 anos depois!!) a cometer os horrores com que somos bombardeados todos os dias nos telejornais. É precisamente por já terem havido duas sangrentas Grandes Guerras que o que se vive hoje em dia é incomensuravelmente pior! Só atesta que o Homem não aprende com os seus erros e abre como possibilidade cenários futuristas arrepiantes. Sim Nuno, a situação de hoje em dia é muito pior, por ser incompreensível…

Quanto ao Protocolo de Quioto Nuno, eu sei o que é, e por saber o que é, é que não tenho grandes esperanças nele. Afinal, a falta de neve nos Alpes e o milagre da multiplicação dos furacões a que temos assistido ultimamente não são propriamente caprichos de São Pedro…

“Tem de existir instabilidade para gerar progresso”…olha Nuno, só te digo que, quando essa instabilidade, quando esses erros de que falas envolvem a morte e o sofrimento de milhares de seres humanos, eu tenho vontade de perguntar: Que raio de progresso é esse? Não sei se é realmente essa a tua opinião, mas foi a conclusão que tirei do que escreveste: o progresso não deve nunca ser um fim em si mesmo, Nuno, mas sim um meio para atingir um fim. E esse fim está tão distante…

E é por isso mesmo, por estar distante, por o Mundo estar realmente mau, que este meu pessimismo crónico não tem como objectivo o cruzar os braços em expressão fatalista, mas sim o arregaçar das mangas para nos esforçarmos para o atingir. Sim, para atingir o “Mundo cor-de-rosa às bolinhas amarelas” Nuno! Tu dizes que é impossível, eu sei que é impossível! E daí?

“A utopia é como o horizonte, quando andamos dois passos para a alcançar, ela afasta-se dois passos; quando damos dez passos, ela afasta-se dez passos; para que serve a utopia, então? Para não deixarmos de caminhar!”

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